Usina Fotovoltaica Flutuante na Bahia
Bahia ganha usina solar flutuante no Rio São
Francisco
Por
Andreia Verdélio, Agência Brasil
As águas verdes do Rio São Francisco agora
também abrigam uma Usina Solar Fotovoltaica Flutuante,
que transforma a luz solar em energia elétrica. A planta piloto de painéis
solares foi instalada pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) no
reservatório da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, na Bahia.
Esse sistema de geração concentrada de energia fotovoltaica em usinas
utilizando a área de reservatórios é pioneiro no Brasil. Até então, ele só
havia sido instalado no solo. Segundo a Chesf, o objetivo é avaliar a
viabilidade técnica, econômica e ambiental do projeto para que ele possa participar
de leilões de venda de energia e ser reproduzido em outros reservatórios ou até
mesmo em rios.
“Isso pode ser muito bem replicado em lugares onde o Brasil é rico em
rios, na Amazônia e regiões do Centro-Oeste, por exemplo. Estamos criando uma
oportunidade”, explicou o gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da
Chesf, José Bione, contando que, quando o projeto estiver concluído, a usina
flutuante terá capacidade de abastecer 20 mil casas populares.
A plataforma flutuante já instalada em Sobradinho tem 7,3 mil módulos de
placas solares, área total de 10 mil metros quadrados e capacidade de gerar 1
megawatt-pico (MWp). Outros 4 MWp deverão ser instalados em 2019. Quando o
projeto estiver concluído, com 5 MWp, a usina flutuante deverá contar com 35 mil
módulos e 50 mil metros quadrados de área sobre o reservatório de Sobradinho. O
investimento total da Chesf é R$ 56 milhões.
Para comparação, o reservatório de Sobradinho tem uma superfície de
espelho d’água de 4,2 mil quilômetros quadrados, com uma usina capaz de gerar
1,05 mil MW. Mas, atualmente, por causa da baixa vazão, a usina está gerando em
torno de 180 MW.
Energia limpa e mais barata
O Então ministro de Minas e Energia, Moreira Franco,
visitou a usina flutuante e disse que o modelo centralizado do setor energético
brasileiro precisa ser repensado pois não beneficia o consumidor. Ele defendeu
a diversificação da matriz energética, aproveitando as potencialidades de cada
região. “No Nordeste, por exemplo, temos que criar um modelo que permita que o
vento e sol, que são fontes de energia mais barata, possam beneficiar os
consumidores”, disse, explicando que no Centro-Oeste, por exemplo, o
biocombustível é muito mais barato que outras áreas.
Para o ministro, havendo viabilidade, é preciso criar condições para que
o potencial produtivo da fonte de energia fotovoltaica possa ser desenvolvido
no país, com equipamentos produzidos no Brasil e a custos mais baratos. “Para
que o produto final não imponha ao consumidor brasileiro continuar pagando a
energia mais cara do mundo”.
Ele alertou ainda que, com a previsão de crescimento da economia em
2,5%, logo o país terá dificuldades por falta de energia. “Se não tivéssemos
tido a maior crise econômica da nossa história, nós teríamos tido o maior
apagão da nossa história”, explicou. “Estamos aqui buscando abrir a
mentalidade, os hábitos, a cultura do setor elétrico brasileiro para conviver
com inovação. Não dá para se repetir os mesmos métodos, ter os mesmos modelos
que têm gerado uma das energias mais caras do mundo”.
Estudos em andamento
Os técnicos envolvidos no projeto da Chesf vão estudar a eficiência da
tecnologia fotovoltaica resfriada naturalmente pela água e pelo vento, já que
as placas instaladas em terra perdem eficiência sob forte calor. Os impactos
ambientais também são objetos de estudo. “A planta de 1 MWp aparentemente não
faria interferência, mas se ampliarmos para usinas de 30 MWp ou 100 MWp é
preciso ver o comportamento da fauna aquática”, explicou Bione.
Os estudos dos sistemas de ancoragem, conexão e conversão de energia
também são pioneiros. A plataforma é fixada ao fundo do lago por cabos, com material
próprio para suportar o peso das placas e dos trabalhadores que atuam na
construção e manutenção, mas será preciso analisar seu comportamento em água
corrente e com a movimentação da barragem.
Para entrar em funcionamento, ainda serão instalados contêineres de
conversão da energia em corrente contínua, produzida pela plataforma, para
energia em corrente alternada, própria para ser enviada às linhas de
transmissão da usina hidrelétrica. De acordo com Bione, esta é outra vantagem
da instalação de usinas fotovoltaicas nesses reservatórios, já que elas
aproveitam as infraestruturas de transmissão, reduzindo, inclusive, as perdas
de energias.
Além da usina flutuante, a Chesf desenvolve outros projetos de Pesquisa
e Desenvolvimento (P&D) na Região Nordeste, com foco no avanço dos estudos
de tecnologias em geração solar e em outros projetos de inovação. Eles estão
centralizados no Centro de Referência em Energia Solar de Petrolina (Cresp) e
somam cerca de R$ 200 milhões.
*A repórter viajou a convite do Ministério
de Minas e Energia.
Foto: Saulo Cruz/MME